sábado, 6 de dezembro de 2008

Solidão

Rainhas, guerreiras, princesas, escribas e bailarinas. Veneno mortal, desertos, mares, medos, morte e o Rei. Tantas coisas me trouxeram onde estou agora. Olho para baixo mas não com um ar de término. A jornada ainda não chegou ao fim. Agradeço muito por isso. Há mais aventuras em meu caminho.

O lugar é uma alta e antiga torre. Contemplo a península dessas terras. O mar parece revolto e o ar gélido. É madrugada. A hora perfeita. O momento oportuno para escrever minhas memórias. Codificar minhas idéias. Quem sabe ainda poderei compartilhar delas com a Perfeita? Quem sabe.

Estou em um castelo muito antigo de fosso seco. Muros altos e feridos. Como se fossem os únicos sobreviventes de uma violenta guerra. Não há mais vida nesse lugar. Inóspito. Perdido. Imponente e fraco. Parece ser minha morada perfeita, mas o Rei me tem uma residência mais digna. Não de mim, mas Dele mesmo. Ainda posso sentir Seu poder fluir em minha carne. Em minhas veias. Meus membros. Cabe a mim fazer por merecer tamanho poder. Ou talvez... talvez apenas encerrar a jornada de forma satisfatória.

Coloco a pena na tinta, mas minha mão se detém antes do primeiro desenho de letra. Eu realmente não gostaria de escrever apenas sobre mim.

Estou cansado. 

E só.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Silia. A rainha dos anões.

Caí no buraco. Areia me cobrindo. Fui ali por conta de um encontro com a Rainha dos Anões. Precisava da sua ajuda, e por isso lhe cobri de presentes e elogios. Eu queria mais poder. Queria mais poder. Desrespeitei a mim mesmo e ao nome dos meus antepassados nessa aliança pérfida e suja. Eu queria poder e manipulei a Rainha dos Anões como eu queria. A fiz se apaixonar por mim. Me prometer reinos. Entregar o seu coração. Nesse ponto eu não pude mais.

Levantei-me durante uma assembléia e me identifiquei como o traidor do reino. Como o espia das nações vizinhas. Expus minhas falhas e minhas máscaras. Sabia que surtiria efeito. O poder me seduziu e eu precisava que algo mais que minha vontade pra me afastar dele. Deu certo. Não tanto quanto gostaria, mas deu certo. Na terra dos anões não piso mais. Espero que sejam prósperos e que a rainha encontre um rei digno. Vou voltar ao meu deserto.

Eu e a guerreira

Lado a lado. Batalha a batalha. Ela gosta de ser solitária, mas sabe aceitar ajuda. Principalmente se a prendo às árvores com a minha espada. Arredia. Selvagem. Também é doce e amável. Depende da lua. O espírito de Diana habita em seu ser. 

Guerreira selvagem.

Ela me confunde.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

O meu caminho

Já fazem anos desde que deixei a princesa ao seu próprio caminho. Não que tenha agido por egoísmo no intuito de largá-la aos próprios cuidados (imaginando que minha vida seria melhor sem os desafios das terras da princesa). Nunca poderia fazer isso. Apenas a deixei. Sabia que seria o melhor. Nossos caminhos devem ser diferentes, para o bem de ambos. Deixei-a aos caminhos do Oráculo. Esse disse que faria melhor que eu. Não discuti. Prefiro que seja assim. Dessa forma me separo dele também, que, na reflexão das coisas, se mostrou mais trazer o meu mal que o meu bem. Que ele cuide da sua amada. Ainda tenho minhas missões a cumprir. Não sinto remorsos e nem saudades. Fiz o que deveria ser feito. Agora prossigo meu caminho.

Morte

Caminho arrastando minha espada. Causando sulcos ao chão. Estou em um deserto muito grande. De manhã o calor é muito intenso e o reflexo do sol na areia pode cegar. As tempestades são fortes e ferem ainda mais os olhos. À noite o frio congela os ossos e os animais podem vir me devorar. As perspectivas de vida não são muito altas por aqui. Ainda mais com esse meu ferimento.

Tive uma luta violenta com uma criatura negra a alguns dias. Veio durante a noite quando me deixei adormecer. Foi um dos meus primeiros erros. Ao abrir os olhos o monstro já subia pelas minhas costas e se preparava pra enfiar seu ferrão em minha cabeça. Acertei-o com meu braço esquerdo, mas ele me mordeu. A dor foi lancinante. Podia sentir o veneno de suas presas passando pelo meu sangue. Meu braço parecia ter sido arrancado, mas ainda estava lá. Com o direito alcancei minha espada e cortei a ligação com a criatura. Ela teve espasmos ao atingir o chão e depois dissolveu. Algo que nunca havia visto. Agora sofro os efeitos de sua arma mortal. Meu braço esquerdo está inutilizado, meu braço direito permanece com a espada ao punho (já que não posso mais sacá-la com a mesma destreza de antes) e minhas pernas tendem a falhar. A visão turva com o calor e minha boca está seca. Desesperada pelo líquido da vida. Não vejo muitas esperanças à minha frente.

domingo, 3 de agosto de 2008

O Cavaleiro Retornou

Passei algum tempo longe. Passei de cavaleiro a forasteiro. De forasteiro a pistoleiro.

De pistoleiro a vagabundo.

Mas então o Rei reconheceu minha nobreza. Nobreza essa que só existe para o Rei, mas Nele eu posso confiar. Nele eu sei que sou Real.

E sou um cavaleiro novamente.

Mas um cavaleiro com outra cabeça. Outra mente e novos desafios. Um cavaleiro que ainda tem que saber se manter dentro da armadura. Realmente aprender a preenchê-la por completo.

A bailarina se foi a algumas semanas. Casou e está feliz. Que seus filhos puxem à ela e já nasçam rodopiando e sendo felizes, ao invés de ser como o pai e sair cantando a parteira e as outras crianças do berçário.

A princesa reapareceu na minha vida, mas não mais no alto do castelo. Aquela torre ela não ocupa mais. Desceu alguns andares e está mais perto do chão. Dessa vez ela já pode correr no pátio e andar pela cidade. Nada muito distante, mas ela dá o jeito dela. Minha princesa continua linda e maravilhosa. O pergaminho que me deu me encheu de alegria. Espero poder mudar meu destino e me fazer digno. É o que todos esperam. Inclusive o Rei.

O Oráculo me incomoda. Ela sabe todas as respostas a todas as perguntas, mas a cada consulta ela parece me vigiar mais. É quem sabe grande parte dos meus segredos e que me deixa mais derrotado. Suas soluções me machucam. Dão certo, mas penso se não haveriam outras formas. Como ela poder ver o passado, presente, e o futuro, penso se não estaria me desviando do caminho de propósito. Talvez sejam apenas minhas divagações, mas tenho vontade de me esconder e não revelar mais nada. Isso pode acabar com nosso relacionamento. Tenho que colocar a espada no chão e pensar. O Oráculo me faz bem. Seria justo?

Rei, me ajude mais uma vez?

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Café

Pensando em café. Esse casebre quente me faz pensar em café. Saio pela porta da frente e vejo a mata ao meu redor. Olho pra cima e esse teto vazado faz tanto sentido pra mim. Ouço ao fundo Kiko Zambianchi dizendo que só chove. Chove, chove. Só chove.

Me sento nos degraus e tento arrumar as idéias. Fico imaginando como ela dança. Imaginando ela rodopiando. Isso ao som da voz de Kiko. Em câmera lenta. Na chuva. Ela é bonita. O sorriso dela conforta. Mas eu nem a conheço. Bailarina estranha. Distante. Um contato a mais. Bailarina de lindo sorriso. Pequena bailarina.

Vamos juntos ao Teatro? Vamos ver ali a Mágica? A magramática da vida? Ela é interessante. É bonita. Gosto do sorriso dela. Ah, eu e esses sorrisos.

Será que vou tomar essa xícara de café?